quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sensível e apaixonante, para sempre Wong Kar Wai

Falar sobre seres-humanos através de imagens e música é uma obra. Pode ser um filme. Construir as imagens como se fosse poesia é sensível e para poucos. Desfocar o fundo e insistir nos planos fechados é um traço que já virou estilo. A noite e as cores são suas aliadas.

Wong Kar Wai me emocionou com o seu mais novo My Blueberry Night. De verdade. Ele constrói uma narrativa com um personagem central, dono do fio condutor e cheio de inseguranças e inocência. O nome dela é Lizzie, na pele da tímida Norah Jones. Maior personalidade fica por conta dos personagens que cruzam o caminho de Lizzie e aparecem em blocos. São pequenos blocos que se constroem na medida em que Lizzie muda de cidade.

Em cada um deles, um novo personagem é apresentado e divide a cena com a ingenuidade de Lizzie. Aparentemente, este novo elemento em cena não é tão inseguro ou talvez não tão tímido. Logo percebemos sua fraqueza e medos. Sue, Leslie, Arnie, todos aparecem, nos cativam e nos abandonam. Todos menos fortes do que Lizzie, que no início do filme perde seu namorado que a trai sem muitas explicações. Nem ela acredita que pode ser tão centrada e forte, nem nós, na verdade.

Lizzie tem um ponto de apoio, Jeremy. Ele cuida dela sem que ela perceba, nos dez minutos iniciais do filme. Ela não pode perceber ainda, está sofrendo com o ex-namorado. A única coisa que lhe é possível, é partir, largar a cidade e se apegar em qualquer outra coisa que não mais aquilo. É o que ela faz.

No fim de tudo, ela volta para o seu ponto de apoio, que nada mais é que um belo rapaz, que lhe serve blueberry pie e a enxerga com os mais belos olhos do mundo.

Um filme despretensioso sobre a vida e sobreviventes.
A pergunta que é lançada e tão logo respondida:

- What happened?
- Life happened.

E é assim mesmo. E isso não é pouco nem simples.


VS.

Um comentário:

Léo disse...

Beautiful, baby!

Você captou a essência do filme de uma maneira tão singela e óbvia que até machuca.

Perto desse post, o que escrevi lá no meu blog fica parecendo um pedaço de texto qualquer.

Sou seu fã e de seus textos!

Mil beijos,
Léo