segunda-feira, 14 de abril de 2008

O que você faz quando ninguém te vê fazendo

Muitas coisas são feitas e confessadas quando não há ninguém por perto para ver e para ouvir. Coisas que até mesmo nós duvidamos. Pode ser algo nojentinho, sexual ou sem graça, não importa, você faz e torce pra ninguém aparecer, ou então, nega quando alguém te pergunta se já fez algo do tipo.

Estes dias eu estava parada no trânsito e aproveitei para observar as pessoas trancafiadas em seus carros. Olho para o lado direito e nada vejo, só a calçada vazia. Já do meu lado esquerdo, uma moça com mais de vinte e cinco anos e menos de trinta. Bonitinha, sem sal, deve ser a mais simpática da turma. Ela devia estar voltando da pós-graduação ou da casa do namorado. Noivo talvez. Tenho certeza de que ela é tímida, nada adepta aos palavrões e cenas dramáticas. Porém, trancada em seu carro com os vidros sem insulfilm, ela cantava e dançava loucamente. A música era algo "for teens", uma bandinha qualquer que deve se dizer de rock, mas não é. Óbvio que ela nunca faria nada disso na roda de amigos. E eu tenho certeza disso mesmo sem conhecê-la. É simples, enquanto ela cantava a música sem errar uma palavra, eu observava e achava curioso, quase ria. Ela sacudiu tanto a cabeça que acabou olhando pra mim e, quando percebeu que estava sendo observada, emudeceu, fez cara de sem graça e desligou o rádio.

Fica tranquila, não vou contar pra ninguém que você gosta dessa bandinha, tá?

Outro dia fiquei sem graça de tanta vergonha que uma amiga minha ficou. Amiga não vai, conhecida. Colega, sei lá. A madame estava ouvindo uma música que diz detestar. Ela tentou me enganar mas não deu muito certo. Entrei na sala dela e ela logo tirou o cd que estava tocando e pos o Ipod para tocar. Troca rápida demais para ser natural e feita de forma super nervosa. Eu ainda disse:

"deixa o cd!",
"não, não, vamos ouvir o Ipod que é melhor, tem várias músicas"
"o cd também tem mais de uma música"
"mas de uma mesma banda"
"tá, e daí? A gente ouve e depois troca. Você estava tão animada."
"tava nada, na verdade nem gosto muito da música que estava tocando. É cd gravado."
"mas se você gravou, imagino que goste das músicas..."
"gravaram pra mim, me deram de presente"

Truque mais do que velho. Blusa que alguém diz que é feia e está no seu armário, você sempre diz que te deram de presente. A mesma coisa com o cd. Continuei:

"e você não gostou?"
"não muito"

Resposta ótima. Uma resposta que dá-lhe a chance de dizer que aquela música era chata mas que outras são boas. Aí ela escolhe uma do meu gosto e me mostra.

"vamos ouvir, acho que vou gostar..."
"quando o Ipod enjoar a gente muda"

Tá. Desisti. Ela foi pega quase no pulo mas se safou. Não descobri o que ela faz quando ninguém a vê fazendo. Eu quase vi. Depois de algumas músicas e cervejas, ela precisou ir ao banheiro. Bendita cerveja! O cd ainda estava no aparelho, ela ligou o Ipod mas não sumiu com o cd de lá. Claro que eu fui checar. Afinal, ela não estava por lá e eu aproveitei para fuçar.

Surpresa, o cd não era gravado. Era de uma banda chamada "Paramore". Que banda é essa que fez com que a madame morresse de vergonha? Só pude saber mais da banda quando recorri ao bom e velho Google. Uma banda nova e que tem gente dizendo que é banda de Emo. Será por isso? Emo virou termo pejorativo, logo, a madame quis esconder o cd.

Tá bom. Talvez eu tivesse dito que era de Emo e ela teria ficado mais sem graça. Porém, me surpreendi ontem à noite quando eu me imaginava cantando num palco uma música que estava tocando no rádio. Não era nenhuma dessas rádios pop. A música era cantada por uma mulher e parecia um acústico.

No final "vocês ouviram Paramore com Misery Business em versão acústica".



VS.

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